Sobre a terceira temporada

E mais uma vez eu e o Arthur discordamos sobre a qualidade de um episódio de True Blood. Por isso, assim como fizemos no episódio 2x08, resolvemos fazer duas reviews diferentes, com o ponto de vista de cada um. Só que quando fui postar, notei que meu texto analisava muito mais a terceira temporada como um todo do que a season finale em si, então decidi fazer posts separados. Enfim.

Sobre o último episódio, que grande decepção. Talvez não tão grande assim, na verdade, se eu considerar o fato de que esperar uma ótima season finale de uma temporada não tão ótima assim seria ingenuidade demais, e eu já deixei de ser ingênuo com True Blood há muito tempo, lá nos primeiros episódios da segunda temporada.

Sinceramente, eu não sei até onde posso parar de dar méritos ao Alan Ball e começar a jogar toda a culpa em cima dele. A trama da Sookie, por exemplo. Sem ironia, ele foi muito, mas muito corajoso de ter mantido a história das fadas originária dos livros. Tanta coisa já havia sido alterada, ele podia simplesmente dizer que não queria essa trama na série, mas talvez visando os acontecimentos futuros, ele preferiu não descarta-la. Pode ter sido uma escolha corajosa, vá lá, agora se foi inteligente já é outra história. Primeiro porque essa introdução às fadas não funcionou nem convenceu na TV. Alguém engoliu aquele jardim ensolarado com pessoas semi-nuas dançando? E o lustre espaço-nave que nos remetia imediatamente ao lustre do Castelo Rá-TimBum? Eu sei que pra muitas coisas funcionarem na TV – e isso se estende a todas as produções de fantasia –, temos que ser... maleáveis no que estamos dispostos a acreditar. Mas até nós, telespectadores de True Blood, estamos limitados. Aliás, essa limitação é própria dos fãs que a série agregou e que não leram os livros.

Durante a primeira temporada acreditamos perfeitamente na história do sangue sintético e dos vampiros se revelando pra sociedade, porque foi convincente. É uma coisa absurda, mas convincente. Por algum motivo, ficou a impressão de que a história das fadas era absurda pro próprio mundo da série.

Eu ia dizer que a falha pode ter sido na execução mesmo, mas não sei, execução é uma coisa que dificilmente dá pra esculhambar em True Blood.

As tramas dessa temporada foram bem sofríveis. Começando pelas subtramas, que, na minha opinião (não vou precisar ficar frisando isso né? Falando “na minha opinião” o tempo todo e tal...), foram particularmente mais sofríveis que a trama principal. O que dizer da Arlene com o bebê? Ou do Jason com a Crystal? Ou do Jesus com o Lafayette? Ou pior, do Sam com a família dele?

Eu gosto muito da Arlene, adoro a Carrie Preston no papel e acho que a personagem teve suas melhores cenas da série inteira nessa temporada, mas nenhuma envolvendo o bebê! Em todas essas cenas legais, as únicas pessoas geralmente envolvidas eram o Sam ou a Jessica. O bebê foi chato e desnecessário, mas aparentemente algo relacionado a ele ainda vai ser revelado... Vamos ver.

O Jason foi provavelmente o mais prejudicado com o excesso de tramas. Ele estava envolvido com a polícia, com a morte do Eggs, com a Crystal e com a cópia mais nova dele. E nenhuma delas foi proveitosa. Em pensar que o cliffhanger dele matando o Eggs na temporada passada parecia tão promissor...

O Lafayette e o Jesus foram outros que só ficaram na promessa. Até história do Lafa com a mãe me interessou mais, pena que ela apareceu pouco. Também não sei se gostei dessa história do Lafayette ter tendências bruxas. Sem querer dizer que quem é bruxo não é humano, eu gostava da ideia dele ser um ótimo personagem e ser humano. Na verdade, eu gostava da idéia de toda a família deles ser completamente de humanos simplesmente humanos.

Eu nem sei o que dizer sobre a família do Sam. Assistir àquilo foi uma tortura, não via a hora deles irem embora. O Tommy pode ter ficado enchendo o saco, mas pelo menos serviu pra balançar mais ainda as coisas entre a Jessica e o Hoyt. Foi a única contribuição do personagem também. E eu ainda gostei das atuações do Marshall Allman e da J. Smith-Cameron, a mãe do Sam, mas não deu.

Agora você pega todas essas tramas e joga ao redor da trama principal, não fazendo ligação alguma entre elas.

O trio protagonista teve uma trama ligeiramente mais interessante, embora boa parte dos méritos seja da participação do Russell, magistralmente interpretado pelo Denis O’Hare. Mas vamos por partes porque o negócio ta complicado.

Começando pelo próprio Russell: sem dúvida alguma, o maior acerto da temporada. O vilão perfeito, a atuação perfeita, a dose de loucura perfeita e eu podia ficar babando o ovo dele por muitos parágrafos. Desde o primeiro minuto em cena, no segundo episódio, o Rei do Mississipi esteve impecável. Seus objetivos eram simples e claros, diferente da Maryann, por exemplo (eu gostava muito da personagem, muito mesmo, mas os objetivos dela eram uma porcaria e ela acabou transformando a segunda temporada numa bagunça). Todo esse terrorismo e esse racismo envolvendo o Russell caíram como uma luva no universo da série. Talvez ele tenha sido o personagem mais linear da temporada. Ok, ele surtou nos últimos episódios, mas a loucura sempre esteve lá, só foi ascendendo. E ele conseguiu ficar impecável até o final, afogado em cimento. Me pergunto como os mesmos roteiristas responsáveis pela criação desse personagem conseguiram criar outros tão chatos como... a Crystal.

Quanto ao Eric, gostei mais dele no início da temporada. As cenas dele com a Sookie nos primeiros episódios, conversando na varanda da casa dela e matando o lobisomem para protege-la, ou até mesmo o tráfico de sangue envolvendo o Magistrado e a Sophie-Anne foram muito melhores que essa vingança. Não engulo essa história do Russell ter matado a família dele de jeito nenhum. Continuo achando conveniência de roteiro, coincidência boba. E isso ainda acabou matando o Talbot, outro personagem que eu adorava e acabou sendo mandado ralo abaixo pela Sookie, com direito a gargalhada maléfica e tudo.

(Preciso salientar, porém, que já que a vingança foi inserida no roteiro, eu não a odiei completamente. Na verdade, adorei quando o espírito do Godric apareceu para tentar guiar o Eric, no que ele simplesmente não só ignorou, como também foi mais fundo: desistiu de matar o Russell com receio de que ele encontrasse paz depois da morte e resolveu mantê-lo vivo daquela forma bizarra. Muito Eric isso, genial.)

Tirando as pendências com o passado, gostei bastante da participação do Eric em todo o resto da trama. Vendo agora, até eu que não gostava muito da ideia dele com a Sookie, fiquei empolgado com a aproximação dos dois. Além disso, de bônus, ainda teve o aprofundamento da relação com a Pam, outra das melhores novidades dessa temporada.

Falando em aprofundamento, tirando a Pam e a Lorena, acho que nenhum outro personagem foi de fato aprofundado (falei da Lorena aqui, pra quem estiver afim de ler). Tentaram aprofundar o Sam, mas só o bagunçaram mais ainda. Acho que a tentativa com a Jessica foi válida, ver ela se virando sozinha e tudo mais. Fora isso, só mais do mesmo.

E os lobisomens, hein? Por que esse desperdício? Com exceção do Alcide (embora ele também tenha boiado um pouco na trama), a única coisa que eu realmente gostei envolvendo os lobisomens foi a luta da Sookie com a Debbie. Aliás, o oitavo episódio inteiro foi um dos melhores. Em relação à briga delas, eu disse em algum lugar que não achava a Sookie burra, mas também não a achava inteligente, e que o ponto forte dela é partir pra porrada mesmo, ser durona e enfrentar os problemas. E vimos a personagem agir assim a temporada inteira, não só nessa cena.

O Bill foi outro personagem que muito me agradou. Certo, talvez ele também tenha sido ligeiramente aprofundado, e num processo que começou lá pelo segundo episódio e só foi concluído nas últimas cenas da temporada. A grande revelação de que o Bill realmente tinha enganado a Sookie, que o Alan Ball enrolou a temporada inteira pra fazer, aconteceu num momento oportuno: logo depois de ter tentado acabar com o Eric, o que foi completamente inesperado. E, ainda por cima, fez isso por medo de ser descoberto! Tem coisa mais mesquinha? Ou será que ele realmente quer matar todos que sabem da Sookie para protege-la? Geralmente eu já sei as respostas desse tipo de pergunta em True Blood, mas nesse caso eu não faço a menor idéia.Gosto da Sookie com o Bill, mas gosto mais ainda do Bill mau.

A trama dele foi uma das que conseguiram ser bem desenvolvidas, afinal ele se resumia só a isso, né? Quero dizer, ele não tinha nenhuma outra trama paralela como o Eric, por exemplo. Foi a temporada inteira ele lidando com o fato de ser o único a realmente saber os poderes da Sookie.

Só não entendi exatamente o objetivo dele ao lutar com a rainha. Ela é bem mais velha que ele, certo? E isso a torna mais forte, não é? Se é simples assim, aquilo não fez muito sentido, apesar dele provavelmente querer apaga-la para ela não poder confirmar o que o Eric contou para Sookie. Caso ela realmente morra, espero que dêem uma boa explicação pra isso. Mas do jeito que as coisas estão, não sei não...

Minha relação com a Tara foi meio bipolar. Muita gente reclamou da chatice dela, e eu concordo em parte. Mas gostei de algumas coisas. Ela teve uma trajetória, se você pensar bem. Começou querendo se suicidar e daí o Franklin apareceu pra ela começar a dar valor à vida. Foi uma lição aos moldes True Blood, mas foi válida. Principalmente porque o Franklin era o Franklin. E no final a última cena dela foi simples, mas disse muita coisa. Deu pra identificar, no mínimo, uma evolução na personagem que teve começo, meio e fim.

Voltando a falar da season finale, faltou alguma coisa. Até o último episódio da temporada passada, com toda aquela palhaçada da Maryann, foi melhor. Acho que as tramas podiam ter se resolvido, sabe? Pra deixar tudo isso pra trás e começar do zero. A única personagem que realmente seguiu em frente foi a Tara. Junto com o final dela, o da Jessica com o Hoyt e a Maxine pegando a arma foram os que eu mais gostei. Fora isso, achei os cliffhangers fracos demais, senão chatos.Alguém ta realmente curioso pra saber onde a Sookie foi parar? Alguém realmente se pergunta se ela vai voltar ou não? Me recuso a acreditar em você, se você tiver dito que sim. Porque, gente... é o mesmo que, sei lá, ter ficado em dúvida se o Eric ia morrer ou não.

No final, achei a terceira temporada consideravelmente melhor que a segunda, mas totalmente enrolada e confusa, atirando pra todos os lados. Ainda assim, mesmo com as decepções e com o excesso de criaturas sobrenaturais, continuo animado pra quarta. As mudanças prometem ser grandes para todos os personagens, mas principalmente para o Bill e, se você leu os livros, para o Eric.

Só que prometer é o que True Blood mais faz, né? Já cumprir...