4x01 - She's Not There

OK, antes de começarmos a falar sobre a estréia da quarta temporada, eu preciso comentar algumas coisas. Nesses últimos tempos eu fiz uma recapitulação de todas as três temporadas de True Blood, e preciso admitir, um tanto quanto tardiamente, que passada a excitação da primeira exibição de cada episódio, o que pra mim é quase que completamente inevitável, muita coisa muda de ângulo.

Percebi que essa mudança se deve muito em função de que enquanto as temporadas são exibidas com episódios inéditos separados entre si por um espaço de uma semana, torna-se ligeiramente mais complicado avaliar de forma geral o quanto aquela temporada realmente mantém uma linearidade, uma coerência. Assistir a um episódio atrás do outro sem a necessidade de uma espera muito grande, e sem a animação do ineditismo, faz com que nós reparemos melhor o que poderia ter ficado de fora, o que foi realmente muito bem colocado, que acontecimentos perderam um pouco o sentido de ser e quais nunca de fato tiveram.

O que eu quero dizer é que a primeira temporada foi absurdamente boa, talvez por ser justamente a primeira apresentação de uma série de 12 episódios onde não cabe atolar o telespectador em quilos de informação e tramas. Sinceramente, acho que a maioria concorda quanto a qualidade dessa primeira temporada. Apesar da maior abertura para temas na segunda temporada, que pra muitos foi considerada confusa, também acho que a sequência tecida foi inteligente. Confusa, talvez, mas bem amarrada e coerente.

A chegada da terceira temporada marca, no entanto, uma mudança. Não só por apresentar um aumento considerável no numero de tramas, mas por uni-las de uma forma um tanto vaga. Em si, todas as histórias apresentadas separadamente, como, por exemplo, a relação de Sam Merlotte com a sua família, e a verdade sobre a natureza dos poderes da Sookie, são interessantes, mas quando unidas, acabaram formando uma temporada um pouco sem cara.

Fica aqui então registrado meu desejo de que a quarta temporada, agora com vampiros, fadas telepáticas, lobisomens, bruxas e outras coisas, não despenque sob a pressão de tantas histórias, que ela seja bem estruturada, e que volte a nos fazer sentir que apesar da aparente impossibilidade própria de qualquer série de fantasia, a história nos soe plausível, real e interessante.


Mas vamos ao que interessa! Vou confessar à vocês que essa season premiere não foi das minhas favoritas. Foi sim muito interessante no que diz respeito aos assuntos que os produtores decidiram, tão cedo, diga-se de passagem, explorar nessa nova temporada. Mas não sei, talvez o episódio cresça em mim depois de assisti-lo umas duas ou três vezes mais. O que é inegável é a presença de uma nuvem de mistérios que permeou praticamente todos os momentos desse episódio.

Foi uma sacada muito inteligente da equipe de roteiristas do programa se utilizar do "sumiço" da Sookie pro plano das fadas pra dar um flash forward na cronologia geral da série. Depois da passagem da primeira pra segunda temporada, e pra terceira em seguida, ambas mantendo uma continuidade de acontecimentos, essa nova maneira de se iniciar a temporada vem desconstruir qualquer ideia que nós supomos do que poderia acontecer com os personagens.

Isso sem contar com a nova dinâmica e o novo ritmo que a série pode ganhar, agora que ela não só tem o papel de retratar tudo que ainda vai acontecer, mas sim tudo que ocorreu após a abdução de Sookie para que as coisas ficassem do jeito que ficaram. Impossível não se perguntar o que pode ter acontecido nesse espaço de doze meses, pra que tanta gente mudasse de posição, de família e mesmo de orientação sexual. Mentira, de orientação sexual nem tem mistério.

Não sei se foi só comigo, mas achei a sequência da perseguição dos humanos no plano das fadas, um pouco demais. Meio cafona, pra falar a verdade. Sem dúvida que poderia ter sido explorada de forma mais refinada, talvez com efeitos especiais mais simples.

Já a escolha de promover pequenas mudanças na aparência de diversos personagens foi de uma inteligência certeira. Os novos penteados de Arlene, Lafayette e Tara, ou mesmo a simples adição de um bigode e cavanhaque no rosto de Jason, fortalecem ainda mais a idéia da passagem de tempo. Realmente uma escolha acertada.

Em relação a personagem Tara, acho que talvez os roteiristas devessem ter esperado um momento mais oportuno pra tira-la do armário. A conexão dessa mudança com as várias decepções amorosas que a personagem sofreu em relacionamentos com homens é praticamente inevitável, e é um clichê muito pobre.

Do pouco que nós podemos presumir que está por vir, a temporada parece prometer bastante, não só pelas novidades, mas também pelo desenrolar da relação entre humanos e vampiros nesse contexto pós-Russell Edgington. Estou animado com o tom que essa situação pode dar à série.

Entre os pontos altos do episódio, destacam-se, o reencontro da Sookie com seu avô e com Berry (será que ele volta a aparecer?), a surpresa de ver Jason Stackhouse como um policial de verdade, ver Tara finalmente usando todo o seu poder de fúria de forma rentável (eu espero), a existência de um novo Rei da Louisianna, a primeira aparição da congregação de bruxas (principalmente, a cena entre a Marnie e Lafayette), os problemas do jovem relacionamento entre Jéssica e Hoyt, a evolução de Jéssica no sentido clássico do que é ser um vampiro, o posicionamento e as atitudes de Eric em relação a Sookie, mas, principalmente, ver Tia Petúnia realizando o sonho de se tornar uma bruxa.

Em resumo, muitas perguntas em aberto como cai tão somente bem em True Blood.