True Blood corrompe criancinhas?

Depois de quase um ano de espera, a primeira temporada de True Blood estreou na Inglaterra dia 07 de outubro, transmitida pelo Channel 4. Aparentemente, isso não agradou nem um pouco a jornalista Olivia Litchtenstein, do site do jornal britânico Daily Mail. Num artigo publicado ontem (05/11) com um título que pode ser livremente traduzido como "Vampiros de True Blood e a TV explícita sugam a inocência de nossas crianças", ela classificou a série como uma história chocante de depravação, que beira a pornografia e utiliza linguagem obscena. Olivia também questionou o conteúdo da televisão atual e ainda mencionou outras séries, como Gossip Girl, Sex & The City, Desperate Housewives, e a britânica Skins. Clique em continuar lendo para ler a tradução completa do artigo e formar sua própria opinião sobre esse assunto recorrente.

Vampiros de True Blood e a TV explícita sugam a inocência de nossas crianças
por Olivia Lichtenstein, publicado originalmente aqui.

Qualquer pai de adolescentes deve ser dolorosamente informado que, para impressionar os telespectadores mais novos, não há nada mais sexy do que um vampiro - e isso não tem nada a ver com o Halloween.

A mais recente tentativa do Channel 4 de nos seduzir com uma mistura de palavrões e sexo veio na forma de True Blood, o que há de mais novo entre os programas que seguem a linha do sexo explícito, violento e vulgar e que, infelizmente, tornaram-se norma na televisão britânica.

True Blood é uma história chocante de depravação, sexualidade explícita (beirando a pornografia) e linguagem vulgar.

Mesmo antes dos créditos de abertura do primeiro episódio, vimos uma garota dando prazer a um jovem rapaz enquanto dirige seu carro.

A história prossegue calmamente através de um programa de televisão no qual uma senhora vampira nos informa que, desde que os cientistas encontraram uma maneira de produzir um sangue artificial, os vampiros já não representam ameaça à sociedade.

Conforme a história se desenrola, ficamos sabendo que houve uma terrível inversão de acontecimentos e que alguns humanos, conhecidos como "dranadores de vampiros", gostam de beber sangue de vampiro, já que ele aumenta a força, o apetite e o desempenho sexual.

O programa está cheio de pessoas com poderes fantásticos. Passado em Louisiana, nele há uma garçonete telepata, Sookie, e um metamorfo, Sam.

Há também os 'fang-bangers' - pessoas que gostam de fazer sexo com vampiros - e os viciados em drogas.

Mais ofensivo do que tudo isso é a natureza de puro mau gosto do conteúdo. Há sexo oral, discussão aberta sobre genitálias, cenas de sexo explícito na fronteira com o obsceno, e linguagem chula.

Vemos um homem ter relações sexuais com uma mulher enquanto assiste a um vídeo da mesma mulher fazendo sexo com um vampiro. O entusiasmo gerado no casal leva-os ao sexo violento, que resulta no assassinato dela.

É animalesco, violento, corrupto e assustador, e é transmitido em um de nossos canais abertos nas quartas-feiras às 22 horas, horário no qual dezenas de milhares de crianças com menos de dezesseis anos ainda estão assistindo a TV.

Claro, é um horário impróprio para menores, mas não posso evitar temer que as crianças consigam ter acesso a este programa, que é um enorme sucesso nos EUA.

Se True Blood fosse um caso isolado, eu não estaria tão frustrada em saber que isto é o que o Channel 4 quer nos fazer assistir.

Mas um olhar nas nossas programações revela que o sexo, a violência e a linguagem vulgar tornaram-se os ingredientes que compõem a dieta da TV britânica.

O conteúdo que teria espectadores em pé de guerra há 15 anos, raramente causa preocupação hoje em dia.

Vários estudos estadunidenses têm mostrado que os adolescentes que vêem um monte de conteúdo sexual na televisão são mais propensos a iniciar relações sexuais ou participar em outras atividades sexuais mais cedo do que seus parceiros que não assistem à programas de sexo explícito.

Claro, é por isso que na Grã-Bretanha existe o horário impróprio para menores para sinalizar quando a transmissão de "programas-família" termina e quando programas com conteúdo adulto podem começar. [O horário] é estabelecido a partir das 21 horas e permanece em vigor até as 5:30 da manhã.

No entanto, os critérios para o que pode ser transmitido antes ou depois do horário impróprio não são claros.

Tome o sexo, por exemplo. A Ofcom [Office of Communications, órgão regulador das comunicações no Reino Unido, com responsabilidades nas áreas da televisão, rádio e telecomunicações] afirma que "representações de relações sexuais não devem ser transmitidas antes do horário impróprio, ou quando as crianças particularmente possam estar escutando, a menos que haja um propósito sério de educação".

O problema hoje é que, enquanto o Channel 4 sem dúvidas argumentaria que True Blood é transmitida após às 21 horas, o horário impróprio estabelecido para menores não é tão eficaz como era antes.

Em primeiro lugar, a desagregação da família tradicional significa que muitas crianças talvez não estejam sendo supervisionadas de forma adequada.

E mesmo que um pai tente impedir uma criança de quinze anos a assistir True Blood em uma noite de quarta-feira, o fato de que muitas têm uma TV em seus quartos significa que elas podem assistir a série de qualquer maneira.

Além do mais, com a proliferação dos canais de televisão, instalações e gravações instantâneas na internet, é cada vez mais difícil de controlar o que as crianças vêem.

Para a preocupação dos pais, um quarto das crianças de doze a quinze anos assiste a filmes ou conteúdos da televisão via websites (como o BBC iPlayer, o Sky Player ou o ITV Player).

Em seu site, a BBC afirma que "espera que os pais e responáveis pela educação compartilhem a responsabilidade de avaliar se o conteúdo do programa é adequado para seus filhos".

Atualmente, é muito fácil para um conteúdo impróprio vazar através da internet e tornar-se disponível online.

As nossas crianças já estão sabendo demais, e a televisão vem sugando a inocência delas há muito tempo.

Elas foram submetidas a uma série de programas que corromperam suas mentes inquietas: Gossip Girl (exibido no [canal] 7), Skins, Sex & The City e Desperate Housewives.

Muitos dos namorados da minha filha de dezesseis anos já eram sexualmente ativos desde os treze ou catorze anos. Já não há tabus, e há poucas coisas que eles não discutem - se já não fazem - uns com os outros de forma explícita.

Ao que parece, não há assunto fora dos limites e pouco senso de privacidade. Estou longe de ser uma puritana, mas sindo saudade dos dias em que, se houvesse um casal se beijando ou deitado na cama em um filme, eles tinham de manter um pé no chão.

Quando a televisão começou sua missão era de informar, educar e entreter, nessa ordem, como dito por Lord Reith.

Em uma cultura obcecada por censuras, em que vários programas estão lutando para permanecer no ar, parece que esses princípios foram esquecidos.

Curiosamente, a Ofcom não fez nenhuma pesquisa sobre os efeitos desee tipo de programação para as crianças e os adolescentes.

Com o horário impróprio para menores tornando-se inutil pelas novas tecnologias, penso que está na hora de todos nós, como uma sociedade, pensar sobre como proteger as mentes dos jovens antes que eles se tornem tão insensíveis a ponto de considerarem normal um comportamento que é, essencialmente, anormal.

É bom lembrar que a jornalista escreveu o artigo baseada majoritariamente nos hábitos e na cultura da população britânica, com exceção de algumas referências a pesquisas feitas nos Estados Unidos.

No Brasil, os episódios inéditos de True Blood são transmitidos pela HBO Brasil aos domingos, às 22 horas. Na televisão brasileira, os programas são classificados individualmente conforme seu conteúdo de sexo e violência. Eles podem ser livres ou impróprios para menores de 10, 12, 14, 16 ou 18 anos.